Review – Vagabond, de Takehiko Inoue (Volume 1)

Review - Vagabond Mangá HeaderA nova chance para o Musashi da vila Miyamoto!

Durante a CCXP 2015 a editora Panini surpreendeu a todos os presentes ao anunciar em sua palestra o retorno de Vagabond, mangá de Takehiko Inoue, baseado no livro Musashi, de Eiji Yoshikawa, que conta a história do lendário espadachim japonês.

Esta é a quarta versão do mangá no país e a última chance dele dar certo. A primeira versão da Conrad foi em meio-tanko, cancelada no volume 44 em detrimento à versão tanko/luxo. A segunda versão era uma edição de luxo, com um acabamento extremamente elogiado, o que refletiu em um alto preço para a época e acabou cancelada no volume 14. A terceira versão, pela editora Nova Sampa, manteve o acabamento luxo e foi uma continuação de onde a coleção havia parado na antiga editora, o que não atraiu novos leitores, acabou sendo muita fraca em vendas e cancelada após 4 volumes lançados.

O mangá de Takehiko Inoue é uma das obras-primas do mercado de quadrinhos japonês, não, do mundial. Foi vencedor do Prêmio Kodansha de Melhor Mangá em 2000, do Prêmio Cultural Osamu Tezuka em 2002 e indicado ao Prêmio Eisner em 2003 na categoria melhor autor/artista. Ele ainda está em publicação no Japão, atualmente com 37 volumes, e novos capítulos são lançados na revista Morning, da Kodansha, mas em um ritmo totalmente irregular pelo autor.

Vagabond Mangá Panini Resenha Volume 1 (19)A HISTÓRIA

No ano de 1600 d.C., o Japão passa por um dos períodos mais turbulentos de sua história. O clã Toyotomi unificou o país, mas acabou enfraquecido após a campanha militar na Coreia e enfrentava resistência para ter seu líder Hideyoshi, e seu sucessor Hideyori, serem reconhecidos como o Shogun devido a sua origem camponesa. Aproveitando-se da situação fragilizada Tokugawa Ieyasu reuniu diversos clãs do leste do país para enfrentar o governo do clã Toyotomi. A grande luta entre os dois clãs ficou conhecida por Batalha de Sekigahara e teve como vencedor Tokugawa Ieyasu, que se tornou o primeiro Xogum do Xogunato Tokugawa. A batalha era formada por soldados experientes, mas muitos camponeses, que sonhavam com a fama e a glória se alistavam nos exércitos combatentes. O jovem Shinmen Takezo, ao lado de seu amigo Hon’iden Matahachi, deixa a vila Miyamoto para lutar na Batalha de Sekigahara como soldado do clã Toyotomi. Os dois acabam do lado derrotado e devem sobreviver em um caminho repleto de dúvidas e incertezas. Acompanhe a jornada de combates sanguinolentos e desafios espirituais desse destemido espadachim, que ficou conhecido pela posteridade como o grande samurai Miyamoto Musashi!

Vagabond Mangá Panini Resenha Volume 1 (15)

CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Vagabond começa com uma desgraça, uma enorme derrota, talvez uma das maiores na vida de Miyamoto Musashi, na época Shimen Takezo. Estando do lado derrotado na Batalha de Sekigahara o início da história é a fuga dos derrotados. Como os exércitos reuniam soldados treinados e cidadãos comuns em busca de ascensão social, ao matar um grande oficial da força contrária os que não conseguiram tal feito ou não foram mortos em batalha deveriam fugir, para não morrerem na mão de bandoleiros e saqueadores ou do exército do novo governo do Xogum Tokugawa.

Shimen Takezo e seu amigo Hon’iden Matahachi são o retrato da classe camponesa da sociedade medieval japonesa, vivem no campo e tem seu dia a dia fixo em uma rotina sem grandes mudanças e somente o sucesso na guerra pode mudar a vida dos jovens. Takezo está em uma camada mais abaixo ainda por ser considerado um selvagem até mesmo pelos outros moradores da vila Miyamoto.

Por retratar uma época longínqua e do outro lado do planeta – o que não é uma situação tão próxima ao do leitor – trata-se de um fato que o vencedor conta a história. Takezo está no lado derrotado, mas isso não abalou seu espírito. Ele está vivo e lutar com a espada o faz não desistir do futuro, mesmo que sangue tenha que ser derramado. É a sobrevivência do mais forte, é o árduo caminho da espada, é o caminho de uma lenda.

Vagabond Mangá Panini Resenha Volume 1 (12)

O “Musashi” do primeiro volume não está nem perto da lenda conhecida, ele é realmente retratado como um bicho selvagem. Matahachi é um retrato típico do herdeiro de uma família, mesmo que seja uma camponesa afastada dos grandes centros, e quer uma vida fácil sem o trabalho sem mudanças do campo, embora esse tipo de atitude faça-o cair em muitas enrascadas como ir para uma guerra em busca da ascensão social ou ceder à luxúria, traindo sua noiva prometida e a confiança de sua família.

Ainda não há a figura humana de um antagonista, mas existe sim um antagonista para os soldados derrotados. A luta de Takezo não é contra uma pessoa, é contra a sociedade que o afasta, reprimi e condena. Estar do lado derrotado na guerra só complica a situação, tornando-o um bandido fugitivo frente ao exército do novo governo, mas é dessa situação adversa que uma lenda surge, uma lenda se constrói.

Takehiko Inoue não faz uma história em quadrinhos em Vagabond, faz uma obra de arte a cada quadro. Páginas vibrantes, emocionantes, com vida e morte, uma arte que se comunica com o leitor. Embora existam muitos filmes sobre Musashi, Vagabond nunca teve uma versão animada ou cinematográfica e atribuo esse fator principalmente à arte. Por mais habilidosos que sejam os artistas e mais recursos que tenham os estúdio não há como outras mídias se comunicarem com os leitores como o mangá de Vagabond faz.

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A EDIÇÃO NACIONAL

Vagabond teve uma nova tradução, mas pela mesma tradutora das outras versões, e a diferença de 10 anos da primeira versão colaborou muito para que o texto esteja mais refinado e com uma linguagem mais atual, embora trate de um mangá histórico. O que também colaborou com tal fato é que o primeiro volume teve dois editores, acredito que não deve se manter assim nos próximos volumes, mas ter mais de um editor no primeiro volume ajuda bastante a sedimentar as bases da publicação dali para frente.

A quarta publicação de Vagabond trouxe uma qualidade gráfica diferente ao que foi utilizado nas outras versões lançadas por aqui. Está em um patamar intermediário entre a primeira versão de luxo e o que vem sendo adotado no mercado pela editora, deixando o produto final com uma qualidade muito boa e um preço mais acessível, bom para quem está conhecendo a história de Musashi hoje e para aqueles que vão recomeçar. O letreiramento do mangá está excelente, interfere pouco na arte e não tem legibilidade prejudicada para ficar bonito esteticamente. O volume tem menos página coloridas, mas é a versão que foi licenciada, outras editoras no Brasil e no mundo podem ter comprado as páginas coloridas a parte ou colorizado com autorização do licenciante. A capa não é espelhada e segue a original japonesa, com o logo marcante do título em verniz e as orelhas com os poemas e aquarelas do autor. Não tem a sobrecapa como a original, o que colabora para não subir o preço e, sendo bem sincero, é bem descartável ter isso, a sobrecapa teria que ser em um papel de baixa resistência e maleável, que estraga com o tempo e gerando uma descontentamento futuro.

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COMENTÁRIOS FINAIS

Se existe uma chance de Vagabond dar certo no país – e se livrar da maldição que persegue o título – é essa. O fato de estar reiniciando faz com que mais pessoas tenham acesso e até mesmo quem vendeu suas versões antigas da Conrad voltem a colecionar. A publicação de Vagabond no país já virou um mito que, no mínimo, desperta a curiosidade do leitor em adquirir o primeiro volume.

Esse é um dos títulos que considero obrigatório para leitores de mangás, não por ter um grande artista como seu autor, mas por trazer uma jornada de fortalecimento e amadurecimento. Ao retratar a história tão intrigante de uma figura lendária de uma forma mais fácil de ser absorvida a expansão da curiosidade em buscar saber mais sobre o tema e também conhecer obras novas aumentar. Quanto mais se lê, mais se aprende, melhor pessoa se torna.

Não fique preso a gêneros, demografias ou qualquer outra coisa do tipo, confira essa grande obra e apoie essa grande chance da obra-prima de Takehiko Inoue chegar aos leitores brasileiros da forma que merece e num preço que parece alto, mas entrega uma qualidade muito boa para que leitores frequentes de mangá, e até quem não tem tanto contato, leia e aprenda sobre um dos maiores guerreiros da história japonesa.

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FICHA TÉCNICA

VAGABOND#01

 Título: Vagabond
Autores: Takehiko Inoue
Editora: Panini
Total de volumes: 37 (ainda em publicação)
Periodicidade: Mensal
Valor: R$ 17,90

Pontos Positivos

  • Nova tradução;
  • Acabamento gráfico;
  • Lançamento desde o início.

Pontos Negativos

  • Capa suja com facilidade;
  • Menos páginas coloridas.

Nota Volume 1: ★★★★★

 

Asevedo

Designer editorial e leitor de história em quadrinhos de diversos países. Assisto animes de forma esporádica. Sempre estou no Twitter.