Porque nem todo shoujo é sobre uma mocinha correndo atrás de alguém.
Comecei a ler Hana-kun to Koisuru Watashi a alguns anos atrás. É engraçado, na época eu não tinha nenhum senso crítico, apenas dizia que algo era bom por ser bom, mesmo sem saber explicar o motivo. Nessas férias acabei relendo a história e posso dizer que o meu conceito principal sobre ela não mudou. Mas todos mudam de alguma forma, tudo evoluí – aliás, tudo deve evoluir. Agora sei quais características me cativaram tanto na série. Então, sem mais delongas, a resenha.
A HISTÓRIA
Nanase Sakashita é boa ao ocupar o papel de aluna exemplar, mas isso não a impede de adquirir um interesse por Hana-kun, o delinquente da escola. Hana-kun acidentalmente derruba uma caixinha enquanto tentava se esconder ao redor da escola. Quando Nanase tenta devolver a caixa, ele diz que não precisa mais dela, pois é muito tarde para dar para a pessoa que ele gosta. Quem será essa pessoa?!
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Hana-kun to Koisuru Watashi, de Kumaoka Fuyu, é um mangá shoujo publicado na revista Bessatsu Friend, da editora Kodansha, desde o ano de 2011. A série já conta com 10 volumes encadernados até o momento.
Um leitor assíduo de shoujo sabe: na maioria das vezes, um mangá acaba quando finalmente a protagonista está feliz com o seu amor. Pode até parecer spoiler, mas esse é um diferencial que precisava comentar em Hana-kun. O mangá desde o princípio não mostra sinais de que o romance vai ser lerdo, de que os personagens vão enrolar 10 volumes ou mais para acabar juntos (pela primeira vez) e se mostra bem direto quanto ao relacionamento do casal principal. Isso é bom? Claro que é. Engraçado que sempre temos a impressão de que os personagens X e Y viveram felizes para sempre quando a história acaba, já que, depois de vários obstáculos, eles finalmente terminam juntos. Acredito que os verdadeiros desafios, as verdadeiras barreiras, começam quando se está com alguém e não quando ainda tentam iniciar um namoro. Hana-kun to Koisuru Watashi mostra exatamente isso, como personalidades opostas de um delinquente e da representante de classe conseguem manter um relacionamento e fazer isso dar certo; nenhuma bitch ou macho secundário são realmente um problema quando comparados com o modo que Hana ou Nanase agem diante do relacionamento cheio de “buracos” que ambos precisam passar.
Personalidades clichês vão e voltam em qualquer história, estão aí para serem usadas e fazerem sucesso (ou não). Hana e Nanase são opostos. Hana é o típico delinquente sem amigos que cabula as aulas e que recebe até mesmo suspensões; Nanase é uma aluna exemplar, que está sempre no topo com suas notas e ainda é representante de classe. Suas personalidades não são originais, mas me surpreendi como elas são trabalhadas e como acabam refletindo em suas ações. Fiquei admirada ao observar como a essência de seus traços permanecem mesmo no ápice do momento – onde boa parte das mangakás preferem ignorar a personalidade verdadeira de seus personagens e deixar a história seguir “como deveria ser” – mostrando que mesmo sendo frutos da ficção conseguem ser tão reais quanto a pessoa que os desenha. Hana e Nanase são personagens que pensam, que tem esse privilégio, e para entender isso só observando como eles lidam com a novidade do primeiro relacionamento, como toda a insegurança, as atitudes equivocadas e as idiotices que fazem parte deles, e de como eles realmente são.
O traço do mangá é bem mediano e o considero um dos pontos baixos do mangá. Admito que esteticamente falando, ele consegue ser mais bonito que Heroine Shikkaku, por exemplo, mas assim como a obra de Koda Momoko, um dos gêneros de Hana-kun mais marcantes em seu começo é a comédia. Autoras que desenham histórias assim costumam fazer expressões engraçadas e afins que contribuam para o efeito de humor do mangá, mas aqui, mesmo tendo uma ou outra coisa, a série não consegue se superar nesse quesito; é apenas uma comédia “ok, isso serve”. Outro aspecto a destacar é o modo como a mangaká desenha seus personagens. Tirando os principais e alguns indivíduos que são peças importantes na história, a autora não consegue fazer algo de encher os olhos. Algo que ainda quero ressaltar foi o erro dela ao desenhar dois personagens basicamente com o mesmo rosto – personagem “A” apareceu capítulos antes e não durou muito na história. Sumiu. O “B” apareceu em um extra, mas poderia jurar que esse era o “A”.
COMENTÁRIOS FINAIS
Hana-kun to Koisuru Watashi não é um shoujo chato. Aliás, não é um shoujo colegial chato, pois ao invés de inúmeros títulos, ele realmente trabalha com o relacionamento de seus personagens principais e procura ser realístico ao mostrar desde os problemas internos de um namoro até o encontro assustador onde o garoto precisa conhecer a família da garota.
Mesmo com esses diferenciais, ele não deixa de ter aqueles momentos típicos da demografia – com aquelas purpurinas ou brilhos que surgem do buraco – mas realmente se torna destaque quando o assunto é um casal superando problemas de casais.