E a grande leva de mangás anunciados pela Editora JBC em 2015 continua chegando ao mercado, só em abril foram 4 novos títulos, e abrangendo público de várias demografias e também os diversos canais de distribuição. Anunciado no Henshin Online 29 em 27 de fevereiro de 2015 aproximadamente dois meses depois chegou às lojas especializadas e livrarias Zero Eterno – Eien no Zero.
O mangá de Souichi Sumoto é a adaptação do livro homônimo de autoria de Naoki Hyakuta que tornou-se um fenômeno editorial no mercado japonês, tendo, só em 2013, vendido mais de 3 milhões de cópia, e ganhado adaptações para outras mídias, como cinema onde arrecadou mais de 8 bilhões de Ienes e também minissérie de televisão em três episódios. A obra é um relato histórico romanceado que utiliza, em sua maioria, personagens fictícios, porém retrata situações reais vividas durante a segunda guerra mundial pela Tokkotai, a esquadra de pilotos suicidas japoneses, os conhecidos kamikazes.
A HISTÓRIA
Ao contrário do que se espera de um título que traz um relato histórico começando com a história do passado pela perpectiva de quem esteve lá, Zero Eterno começa de uma forma diferente, com uma breve introdução sobre o piloto da segunda guerra mundial Kyuzo Miyabe, feita nos dias atuais por um de seus descentes, o jovem semi-NEET Kentaro Saeki. A história de Zero Eterno traz essa visão do passado pelos olhos de quem não esteve lá.
Kentaro Saeki é um jovem rapaz de 26 anos que está sofrendo com reprovações sucessivas no Exame Nacional de Advocacia, algo semelhante ao exame da OAB, o que deixa o rapaz com a sensação de faltar algo que o motive, que faça seu motor funcionar. Como está parado e sem grande metas sua irmã, Keiko, lhe oferece um bico na pesquisa sobre a guerra que ela está fazendo e que, caso dê tudo certo no projeto, pode até se tornar um livro, mas para aproveitar o projeto também quer pesquisar sobre seu avô que morreu em um dos ataques da Tokkotai na guerra e que só descobriram recentemente sua existência.
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
A proposta de Zero Eterno é ser algo bem diferente e não linear, pois no meio do diálogo dos irmãos aparecem cenas de aviões de guerra e de outras situações militares da época da segunda guerra mundial. É um mangá que desperta a curiosidade, sobretudo daqueles que gostam do tema de guerras mundiais e do peculiar esquadrão suicida japonês, apesar de ter uma visão mais romanceada e sem retratar os horrores da guerra em maiores detalhes, que podem ser muito bem vistos em Gen – Pés descalços, questões como a honra acima de tudo e a luta pela vida em tempos difíceis são explorados pela perspectiva de quem esteve lá e critica até hoje a atitude de outros que morreram.
A pesquisa dos irmãos não poderia ficar somente nos livros e reportagens do período, para se aproximarem mais de como foi viver naquele período a busca por pessoas, civis e militares, que ainda estão vivas e poderiam relatar o período e quem foi o avô desconhecido deles era necessária. Nessa busca encontram um senhor que serviu junto ao seu avô e que contestava o modo de “lutar” dele, que prezava sobreviver ao combate do que lutar e se sacrificar pela honra da nação. Ironicamente o avô deles, que prezava por viver, morreu e o senhor que teria sua maior honra se morresse pelo país sobreviveu.
O modo que a trama se apresenta lembra muitos romances históricos, com a história correndo no período atual, mas com grandes trechos de flashback, o que deixa o mangá com muitas folhas pretas. Outra diferença é de ter muitos diálogos no que acontece no período atual da história, enquanto os trechos do passado possuem bem poucos diálogos, todos originados do relato do entrevistado, com muitos textos descritivos.
Os personagens são interessantes, principalmente os do presente, mas muito mais pelo objetivo que eles possuem do que por sua construção, que deixam um pouco a desejar só que devem evoluir com o tempo. Já os personagens da época da guerra te deixam curioso para saber como eles eram na época, como era aquele mundo em tempos de guerra e como eles serão descritos e descobertos pelos netos do Kyuzo Miyabe e essa estrutura é o que te prende à história.
O traço dos personagens da obra considero bem dentro do padrão, na maioria do tempo não são super detalhados, ficando até caricatos algumas vezes, mas tem aquele toque especial dos mangás que atraem os fãs. Comparando com outros artistas o traço me lembra o da já citado Gen – Pés descalços, de Keiji Nakazawa, Speed Racer, de Tatsuo Yoshida, e Cavaleiros do Zodíaco, de Masami Kurumada, mas com um toque mais moderno, menos década de 1980 e mais dos anos 2000.
O grande ponto da arte da obra são os cenários e equipamentos militares dotados de uma arte rica em detalhes, é possível ver detalhes nos navios e nos aviões em situações mais paradas na base como nas cenas de batalha aérea, o que deixa a dúvida se o livro faz toda essa descrição ou foi de todo feito a partir da pesquisa do Shouichi Sumoto.
COMENTÁRIOS FINAIS
Zero Eterno é um mangá diferente, até mesmo atípico se comparado com o que saia poucos anos atrás, e fico contente dele estar sendo publicado por aqui, já que trata de um período importante da história da humanidade e, que pelo tamanho que foi o conflito, possui tantas fontes e formas de se contar. Acredito que por todo o terror que foi esse período de guerra ele não deve parar de ser lembrando, mas, parafraseando a obra, “Essas são palavras de quem só conhece tempos de paz” e só mesmo quem viveu no período sabe o que ele foi e a obra traz um pouco disso.
A edição da JBC traz aquela proposta de ser publicado em um formato “melhor” para livrarias e lojas especializadas. O que gostei de ver foi o glossário no final, e no sentido de leitura da esquerda para a direita, com tantos detalhes históricos ter a explicação em uma boa diagramação e não em letras pequenas no rodapé foi bem melhor, mas atenção à remissão de páginas, que tem erros. A qualidade do material é diferente do padrão de banca da editora, a capa é fosca e fica bonita com essa laminação, só que a 4ª capa branca e é um convite para a sujeira, já as orelhas colaboram para que o mangá não fique abrindo, porém tem erros de divisão silábica horríveis, estou à ponto de fazer uma etiqueta e colar por cima. O miolo é em papel offset e isso incomoda no passar das páginas, principalmente se você quer olhar o glossário ao final a cada número que aparece, acredito que o papel offset é o pior a ser utilizado em mangás e, se a intenção é ser um material melhor, utilizem o papel Lux Cream, o mesmo de Death Note Black Edition, valeria mais o preço, já outros títulos regulares de banca são similares.
É uma obra que vale a pena ter na coleção se você é fã ou curioso do período da guerra, ou se quer entender porque foi um fenômeno editorial. Como não é publicado regularmente em bancas pode valer a pena assinar ou esperar a sua conclusão para comprar se você não possui acesso às lojas onde são lançadas. O que espero da editora é maior cuidado nas próximas edições e que, dentro da proposta de materiais diferentes, publiquem o livro que deu origem ao mangá.
Título: Eien no Zero (永遠の0)
Autor: Souichi Sumoto (arte) Naoki Hyakuta (história original)
Editora: JBC
Total de volumes: 5 (concluído)
Periodicidade: Mensal
Valor: R$ 23,90
Pontos Positivos
- História que desperta a curiosidade;
- A alternância da história entre o presente e o passado;
- O desenho dos equipamentos militares.
- Glossário no final.
Pontos Negativos
- Os personagens do presente não são muito carismáticos;
- O preço.
Nota Volume 1: ★★★★