Review – AohaRaido, de Sakisaka Io

Aoharaido HeaderO shoujo mais vendido de 2014 no Japão, agora no Brasil.

A Betsuma é considerada por muitos como a principal revista shoujo do Japão na atualidade. Não é a toa. Foi lar de séries como Lovely Complex e atualmente sustenta um dos shoujos de maior sucesso de todos os tempos, Kimi ni Todoke. Por muito tempo ela procurou uma série que almejasse o mesmo sucesso da obra de Karuho Shiina, mas isso parecia muito distante. Até que uma autora já conhecida da casa, que havia feito relativo sucesso com sua obra anterior – Strobe Edge – apareceu novamente no line-up e apresentou um novo romance colegial que conquistou os leitores do Japão – e de diversas outras partes do mundo. E ele me conquistou também. Por diversos motivos que talvez eu nem ao menos consiga dizer nessa resenha.

Agora, a Panini lança no Brasil AohaRaido – também conhecido como Ao Haru Ride, ou Blue Spring Ride. E você conhece no Chuva de Nanquim um pouco mais sobre a obra de Sakisaka Io!

6A HISTÓRIA

Yoshioka Futaba tem algumas razões pelas quais ela quer “reiniciar” sua imagem e sua vida como uma nova estudante de ensino médio. Ela é bonita, mas tinha uma personalidade recatada que diversas vezes a deixou com uma imagem negativa com amigas do mesmo sexo, principalmente quando o assunto eram garotos, já que ela manteve um passado atrás de um garoto que ela sempre gostou, Tanaka Kou, mas que a “deixou” traumatizada.

Ela decide que está pronta para viver sua vida sem ressentimentos do passado, mas inesperadamente ela reencontra Tanaka-kun, mas agora com um novo nome: Mabuchi Kou. Porém não só seu nome muda, e Kou tem sua personalidade totalmente diferente das lembranças de Futaba, que descobrirá aos poucos os dias difíceis de seu amor de infância. Será que esse reencontro fará com que esse amor mais uma vez venha à tona?

3CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

A primeira pergunta que eu ouço quando alguém que não conhece AohaRaido buscam recomendações sobre a série é: “É um novo Kimi ni Todoke?” e a resposta é rapidamente um “Não!”. Porque realmente não é! Apesar de ambas serem relacionadas aos amores colegiais, e de certa forma buscarem o mesmo público, AohaRaido não anda aos mesmos passos de Kimi ni. Muito pelo contrário. Estaria mentindo se em certo momento a autora não desse uma certa pisada no freio e o título desse uma declinada momentânea, mas é notável a diferente de timming entre as duas autoras. Inclusive com a atitude de seus personagens.

Aliás, personagens é algo que realmente precisamos colocar em foco aqui. E principalmente nossa protagonista. Futaba não é uma colegial comum desde o começo do mangá e é nela que devemos perceber a maior evolução em um personagem da obra toda. No começo ela diz não se importar com garotos, que literalmente não os suporta. Mas que Tanaka-kun é diferente de todos os outros e que ele é seu verdadeiro amor. E ela realmente continua com tal comportamento depois de sua “perda”. Assim como muitas garotas da “vida real”, Futaba quer ter amigas, quer se encaixar em um grupo. E para isso ela chega a mudar sua personalidade para não ser detestada. Isso é incrivelmente… normal. Aliás, não só em grupo de garotas, mas de garotos também. Quantas pessoas já não tentaram se encaixar em um grupo mesmo não fazendo parte e nem combinando com ele em nada? Simplesmente para não ficarem sozinhas. E é isso que acontece com Futaba, até ter seu reencontro com Kou e, a partir daquele momento, perceber que não precisa de ninguém dizendo como ser. Que ela pode ser ela mesma. Mas a melhor parte das mudanças você descobrirá lendo. Não quero estragar a surpresa de ninguém.

4Kou é o ponto dos “problemas pessoais”. Aquele clima “sombrio”, meio Sasuke de Naruto (desculpa, acabou se tornando uma expressão pra definir persoangens assim), depressivo e com muitas coisas escondidas. Justamente por isso é mais difícil de deixar suas amizades entrarem em sua vida, e durante o mangá percebe isso de formas difíceis e apanhando muito – e fazendo muitas besteiras em relação aos outros também. É um personagem ame ou odeie para muitos. Mas que por algum motivo mágico, você acaba sempre querendo que ele fique bem! Porque a autora consegue passar aquela sensação de “esse casal sofreu muito, eles merecem ficar juntos”.

Isso sem falar nos personagens secundários que são ótimos. Murao é uma garota extremamente forte e decidida, mesmo com seus problemas internos. Yuuri é a amiga que não se abala pelo que os outros dizem de sua personalidade, mesmo tendo um conflito com isso. Kouminato é o típico amigo idiota, mas que sempre tenta ajudar de qualquer maneira. Temos ainda o Tanaka-sensei, irmão de Kou, que também tem sua trama desenvolvida dentro da série (e que aqui tivemos um grande desagrado por parte dos fãs, mas isso seria spoiler). Além, é claro, da adição de Touma, o rival amoroso de Kou pela conquista de Futaba.

No fim, temos um casal realmente bom de protagonistas e coadjuvantes tão cativantes quanto. Tanto em suas construções (que estimulam muito o ame ou odeie), quanto em seu visual.

7E falando em visual, o traço é algo que podemos ir totalmente confiantes na Sakisaka-sensei. Com um estilo único e extremamente agradável, é difícil não se encantar com toda a composição visual do mangá. Personagens bem desenhados (e todos bonitos, diga-se de passagem – proibido gente feia) e um cenário que compõe de maneira satisfatória toda a trama na qual se passa a história, por mais simples que seja. Como dito anteriormente, a composição final é harmoniosa e explica porque AohaRaido foi escolhido tantas vezes para estampar belas capas da revista Betsuma – e também o motivo da autora ter sido responsável pelo character design de obras como Hal. Talvez exista um grande incômodo nisso tudo: todos em AohaRaido parecem ter saído diretamente das páginas de Strobe Edge. Kou então, nem se fala. Não sei se isso é um mal da autora e se persistirá em seu próximo título, mas fica claro que em AohaRaido ela usou muito de sua antiga obra.

Não que isso seja necessariamente um problema. Se por um lado temos essa comparação do traço semelhante, em relação ao roteiro também a fazemos, mas de forma positiva. Como dito aqui, na resenha de Strobe Edge, o mangá era muito cativante e já dava sinais de como Sakisaka poderia se dar bem na sua obra seguinte. E isso realmente acontece. Percebemos um amadurecimento da autora em diversas passagens de AohaRaido que a tornam uma autora muito mais experiente. É como se ela tivesse usado uma série como modelo de uma criação ainda melhor. Apesar de alguns pensarem “mas não deveria ser normal um autor adquirir mais experiência com o tempo?”, não é assim que funciona. Quantos não são os autores de “uma obra só”? Watsuki (Rurouni Kenshin) é um exemplo.

5Personagens secundários agora são muito mais trabalhados em AohaRaido. Mas aqui talvez encontremos um ponto que ainda não sei separar se me irrita como ela fez ou se realmente foi feito de forma equivocada. Sakisaka trabalha em diversos capítulos alguns personagens secundários. Coisa de deixar protagonistas de fora e se dedicar totalmente em tramas paralelas. E isso é ótimo! Mas o final deixa uma pequena dúvida se acontece uma velocidade acima do normal ou se ela realmente quis que acabasse dessa forma. Não estraga o bom e satisfatório final da série, mas dá o famoso gostinho de quero mais.

CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS – A VERSÃO BRASILEIRA

No aspecto gráfico, comparando a edição japonesa e a nacional, percebemos como a Panini se preocupou em preservar o máximo da fidelidade da edição original. Em primeiro lugar, capa frontal e traseira seguem o mesmo modelo da edição original, sem espelhamento e com as ilustrações iguais. Aliás, a nossa edição preserva ainda mais a ilustração do Kou, já que a sinopse é levada para um ponto mais limpo da imagem (alguns reclamaram que tal sinopse tenha ficado muito pequena, mas provavelmente foi a alternativa para não ocupar muito da ilustração).

AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (2)
Comparação das capas. Notável a diferença de tamanho entre a versão japonesa e a nacional. Panini optou por manter o tamanho padrão dos mangás.
AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (4)
Apesar de nossa sinopse parecer pequena demais, ponto para a ilustração que é mantida integralmente, diferente da capa japonesa.

Já em uma das capas internas é utilizada uma das páginas de abertura de capítulo do mangá. Na outra, uma ilustração recorrente no encadernado. A principal diferença está no tamanho e na qualidade do produto impresso, como é de costume na comparação entre um material brasileiro e japonês. Enquanto o mangá brasileiro tem o formato 13,7×20, o japonês possui um formato 13×18. O que significa? Não muito. Em alguns casos as nossas páginas possuem até um pedaço a mais de ilustração do que a japonesa, isso porque os materiais originais são cedidos para a montagem do arquivo. Como nossa edição é maior, se utiliza mais da arte da autora.

AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (10)
Final do primeiro capítulo e primeiros comentários da autora no mangá de AohaRaido.
AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (7)
Na versão brasileira, apesar do papel inferior, todos os comentários da autora foram mantidos e a impressão está muito boa, mesmo em alguns momentos parecendo demasiado escura.

Já no material impresso, obviamente o Japão é superior. O papel possui uma gramatura muito melhor do que o pisa brite de 48g utilizado pela Panini. Mesmo assim a impressão nacional não compromete a leitura e não apresenta borrões. Bem como as capas e ilustrações coloridas presentes nas capas internas não apresentaram nenhum defeito de registro de impressão (quando o colorido aparenta estar “borrado”).

AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (6)
Para a capa interna, a Panini aproveitou parte da ilustração contida na orelha japonesa.
AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (5)
Na outra capa interior, uma das imagens que abre um capítulo é a escolhida. A mesma cor do logotipo é usada na ilustração.
AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (11)
A versão japonesa apresenta jaqueta removível, mas não possui nenhuma ilustração interna. A Panini manteve toda a identidade visual original.

O grande diferencial de nossa edição é o marcador, exclusivo da edição nacional do mangá. Utilizando-se da imagem da capa e da ilustração que estará presente na lombada de todas as edições, o marcador é item obrigatório na coleção dos fãs da obra. Esperemos que em outras edições tenhamos mais!

AohaRaido Volume 1 - Panini - Fotos (13)

COMENTÁRIOS FINAIS

Quando foi dito no Chuva de Nanquim que AohaRaido seria uma última chance para o shoujo no Brasil, muitas pessoas entenderam a mensagem que foi transmitida e outras nem tanto (chegaram até a falar que a Panini havia pago um post, pasmem, de um dos meus mangás favoritos e em que eu falava mal, inclusive, fã própria Panini).

2AohaRaido é um título forte. Tão forte quanto Kimi ni Todoke é. E veio depois de campanha extremamente bem organizada do Mais Shoujos No Brasil. A Panini abraçou a ideia e investiu em um mangá relativamente grande (lembremos que AohaRaido não havia acabado quando foi anunciado), visando abrir novamente o mercado para a demografia. E não com séries curtinhas, mas com uma com real potencial de vendas! E ela se mostrou disposta a apoiar totalmente a ideia após o marketing até fora do comum da editora para um mangá e um carinho realmente especial na edição. E o público comprou junto. Foi uma união que realmente pode render frutos para todos. É a tal última chance sendo bem aproveitada.

AohaRaido pode não ser o melhor mangá shoujo que você já leu. Talvez passe bem longe disso. Mas é um título atual, com uma localização atual e um público encantado. É um mangá honesto, que passa bem sua mensagem e que conseguiu terminar em um número “ideal” para muitos. Se você estiver disposto a ter uma leitura colegial, de romance e extremamente cativante, ele não te deixará na mão e te dará um material de qualidade.

Será AohaRaido uma nova primavera das séries shoujo no Brasil? Esperemos que sim!

8

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.