Review – Tonari no Kaibutsu-kun, de Robico

kaibutsu-kuPrimeiro mangá escolhido pelos leitores! Yay!

Essa resenha era para ter saído no último domingo, mas por causa de alguns imprevistos – a pessoa aqui ainda não tinha terminado de ler e acabou maratonando oito mangás seguidos no mesmo dia, bloqueio mental para escrever e chefe doente – acabou saindo hoje. Pelo menos saiu!

Não sei como o anime começa e nem como ele termina. Não sei se seus episódios foram fiéis aos capítulos do mangá, mas é fácil dizer que muitos conheceram a obra através da animação. Por isso é bom ressaltar que está resenha tem base em sua obra original.

tonari5A HISTÓRIA

A história gira em torno de Misutani Shizuku, uma garota no maior estilo “coração gelado” que só quer saber de se dar bem nas notas e não dá a mínima importância para os outros. Porém, a vida de Shizuku muda ao se envolver com Yoshida Haru, um garoto conhecido pela sua personalidade extremamente recatada e cheia de segredos. A coisa fica engraçada quando, repentinamente, Haru se confessa para Shizuku e… o que será daqui por diante desse casal totalmente diferente do convencional?

tonari7CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Tonari no Kaibutsu-kun é um mangá de Robico lançado em 2008 na revista Dessert, da Kodansha. A série chegou ao seu auge em 2012, com o lançamento de um anime que levantou a popularidade do mangá em ótimos níveis, fazendo com que ele se tornasse um sucesso de vendas e passasse a se tornar um dos queridinhos da turma dos shoujos. O mangá chegou ao fim com 12 volumes encadernados e mais um volume extra (com pequenos curtas dos personagens secundários). Nos Estados Unidos a série chegou com o nome de “My Little Monster”. No Brasil, foi um dos três mangás mais pedidos para a editora Panini na campanha Mais Shoujos No Brasil, ficando atrás apenas de Aoharaido e Lovely Complex.

As pessoas costumam falar que Tonari é um shoujo atípico. Concordo com isso, porém, em partes. Ao contrário de várias histórias que lemos e conhecemos, o mangá em si não é clichê; tanto a trama quanto seus personagens conseguem ser originais em algum ponto e a protagonista é um exemplo bem claro disso. Quem acompanha a demografia sabe que é mais fácil se deparar com uma personagem mais sensível e dramática, do que uma que é independente e procura tomar decisões sozinha. Ainda há alguns fatores que poderiam ser considerados banais como os triângulos amorosos ou as famosas bitches de shoujo, mas mesmo nisso ele consegue ser diferente; Tonari pega situações comuns e as torna inusitadas.

tonari1O traço da autora tem uma característica muito interessante. Sua arte se assemelha aos de mangá shounen (um traço mais “duro”), mas quando a cena requer mais atenção, como por estar em algum momento crítico ou cena de impacto, ela opta por desenhar seus personagens de maneira mais delicada e suave, fazendo com que o leitor, além de admirar, possa prestar mais atenção nos detalhes. Acredito que isso seja um dos pontos altos do mangá.

Agora mais um destaque que vale citar: A comédia apresentada é muito boa! No começo de cada capítulo há uma história bem curtinha que não tem conexão com a principal e no fim há tirinhas de quatro painéis (4-komas) que, com certeza, renderam risadas para quem leu. Há um capítulo em que a Shizuku e as outras meninas vão para a casa da mesma para fazer chocolates de Dia dos Namorados, lá elas conhecem o irmão mais novo de Shizuku, Takaya. As meninas tiveram a ideia de fazer o chocolate no formato de algo que os namorados delas gostassem, e acabaram perguntando para Takaya do que os homens gostavam. Ele simplesmente respondeu: “Peitos.”

tonari3Falar da comédia também é falar de quem faz a comédia. Tonari nos apresenta um grupo de personalidades diferentes que contribuem para ar mais cômico existente, fazendo com que mesmo os personagens secundários se destaquem. Shizuku, nossa heroína, é bem fácil de entender; ela é extremamente sincera e bem transparente, procura dizer o que pensa, mesmo quando não é algo bom. Sua grande característica é o fato de sempre estar estudando, ainda mais quando vê que Haru tirou uma nota maior do que a dela. Falando nele, pode-se dizer que Haru é quase o oposto de Shizuku; não estuda, age por impulso, fica estressado a toa e suas ações se assemelham muito a de uma criança. Além do casal principal, ainda temos Natsume e Sasayan; apesar de Natsume não ser a protagonista, desde o começo ela me conquistou tanto quanto a Shizuku. Algumas de suas ações lembram muito as de Haru, mas ela sempre precisa de ajuda para estudar – ela é meio burra, mas o que importa é o coração – , e não tem muitos amigos na vida real, por isso frequentemente está atualizando seu blog e fazendo amizades virtuais. Sasayan é um garoto bem simples e acredito que é o único do grupo que possuí senso comum; além de ter muitos amigos e ser amado por todos, ainda é bom nos esportes e um aluno com notas medianas – o que você foi fazer em meio aos loucos, hein Sasayan?

tonari11Ainda focando nos personagens, temos Ooshima e Yamaguchi, uma que gosta de Haru e outro que gosta de Shizuku, respectivamente. Em relação a triângulos amorosos, creio que a autora sempre passou a segurança de que não haveria chances para quem tentasse se envolver com o casal principal, mas não é esse o destaque entre esses dois personagens. Como a própria Natsume disse uma vez “Ooshima sabe o seu lugar” e como uma bitch de shoujo, ela foi, na verdade, bem justa e ganhou meu respeito no fim do mangá – até desejei que ela arranjasse alguém para não acabar sozinha. Já Yamaguchi, apesar de ter tentando um pouco mais, também jogou bem limpo quando se tratava em conquistar o coração de Shizuku. Esses dois retrataram o modo de como os personagens que sofrem de amores unilaterais deveriam agir; de forma limpa e justa.

tonari15A relação de Haru e Shizuku poderia ser descrita da seguinte maneira: Haru corre atrás, mas quem toma atitudes é a Shizuku. E é aqui que, por mais que haja tantos pontos altos, encontramos os baixos; isso se encaixa para qualquer obra, de qualquer gênero, demografia e, claro, Tonari no Kaibutsu-kun não é diferente. Por mais que goste do casal, sinto que durante a história faltou algo, que no caso tem uma forte presença em todos os shoujos: o romance. Não estou dizendo que ele não existe, tenho plena consciência de que um shoujo bom não precisa ter aquele romance, mas isso varia a partir do momento em que a história começa a se formar, e com base nos rumos que tomou, acredito que faltou isso entre os protagonistas. Ao mesmo tempo em que a relação entre ambos era certa, ainda parecia insegura; mesmo quando começaram a namorar, parecia que nada havia mudado. Talvez seja impressão minha, mas na primeira metade do mangá a Shizuku quase não tem destaque, pois a trama parece estar focada em todos, deixando os que seriam “principais” de lado. Tonari faz isso e tem vários personagens para comprovar. Trabalhar com um grande número de personagens não deve ser fácil, ainda mais se todos eles precisam de uma “história”, e isso pode ter causado essa falta de “presença” da protagonista. Ainda seguindo essa linha de pensamento, outra característica baixa é a falta de profundidade das antigas relações dos personagens; por ser uma comédia, provavelmente foi uma opção deixar o drama de lado, mas ainda fiquei curiosa para saber mais sobre a mãe de Shizuku e sobre o passado de Haru.

tonari12COMENTÁRIOS FINAIS

Sendo sincera, Tonari não era minha primeira opção de leitura e por muito tempo – mesmo antes da história de “votação de shoujo” – procurei evitar ler. Porém, o enredo e os personagens mostraram porque a história vale a pena; foi uma escolha que rendeu ótimos feelings e boas risadas, que recomendo para todos por não se tratar de nenhum tema pesado ou desgastante, não acabou sendo um dos meus preferidos, mas isso não significa que ele não tenha seus fãs. Enquanto escrevo essa finalização, percebo que talvez o maior foco do mangá seja a amizade. Tanto Shizuku, Haru, Natsume e outros pareciam solitários no começo, mas em momentos críticos dava para perceber como se apoiavam, mesmo não falando tão abertamente sobre os problemas que os preocupavam.

“Uma escolha sem arrependimento, é uma escolha certa. […] As pessoas podem escolher o que for, mas elas continuarão suas vidas pensando nas outras escolhas que foram descartadas.”

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