Uma protagonista que é tudo, menos protagonista.
Post Convidado, por Miyuki
“Uma falha de heroína”. Esse mangá com certeza não poderia ter um significado melhor pra um título. Mas o que torna Heroine Shikkaku tão diferente do normal? O que te faria ter vontade de acompanhar esse título? Mais um shoujo? Pois nessa resenha você entenderá os motivos que fazem um mangá em uma revista com tantas outras obras famosas conseguir atrair a atenção do leitor, e por qual motivo você também deveria conhecê-lo.
Com vocês, Hatori. A protagonista menos protagonista da história.
A HISTÓRIA
As pessoas fazem planos. Garotas fazem planos. Muitas pensam no dia que elas vão se casar, encontrar o seu príncipe encantado e se tornarem felizes para sempre. Ou quase isso. É assim que pensa Hatori, uma jovem que acredita desde muito cedo que sua felicidade está ao lado de seu amigo de infância chamado Terasaka Rita. Ela deseja mais do que tudo que possa ser feliz ao seu lado e construir um casamento feliz. Mas a vida não funciona como a gente planeja e Hatori sentirá isso da pior forma possível. Ela definitivamente não é a protagonista de sua própria história.
Além de Rita, a garota ainda conhecerá o persuasivo Hiromitsu, que será o responsável pela divisão de seu coração. E pra completar, a tímida e simpática Adachi, que em qualquer outra história, seria com certeza uma melhor protagonista do que a nossa atrapalhada Hatori. Essa deliciosa comédia romântica vai mostrar que nem toda jovem personagem principal é tão sortuda como a gente acredita. E que escolhas erradas podem definir o seu futuro ou não. Será que Hatori conseguirá se transformar em uma heroína no final das contas?
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Heroine Shikkaku é um mangá de Koda Momoko publicado em 2010 na revista Betsuma, a mesma de Kimi ni Todoke e Aoharaido. O título foi finalizado em 2014 e contou com um total de 10 volumes encadernados, além de capítulos extras e crossover com outro shoujo: Hirunaka no Ryuusei. Infelizmente o título nunca engrenou como um dos grandes da revista e seus números de vendas não foram dos mais excepcionais, o que acabou não lhe rendendo nenhum anime ou live action (algo muito comum em shoujos de sucesso). Mesmo assim, podemos dizer que ele é o tipo de título “subestimado” pelo público.
Em um mundo com um vasto mercado de shoujos, com diferentes traços, enredos, autores, entre outros, você deve estar se perguntando porque gostei tanto de Heroine Shikkaku. A resposta é simples: A protagonista. Ela não é perfeita, quer dizer, provavelmente é a última coisa que ela é, mas não deixa de apresentar uma personalidade forte. Ela é tão persistente que em certos pontos parece ser masoquista, fazendo com que o drama seja percebido. Porém a questão é que ela não desiste, mesmo depois de ser rejeitada ou fazer diversas escolhas erradas, ela é admirável e é possível se identificar com ela. “Eu já fiz isso” ou “eu entendo como você se sente” foram os meus pensamentos mais frequentes ao ler o mangá.
Apesar de apresentar um certo drama, o ponto forte de Heroine Shikkaku é voltado para a comédia romântica, até porque, mesmo em momentos mais sérios, a autora não aprofunda tanto o lado dramático, usando a protagonista como uma grande fonte de humor, a desenhando com expressões engraçadas que tornam o alívio cômico da série.
Ao falar sobre o mangá, não se pode deixar de mencionar os personagens e suas personalidades diferenciadas. Afinal, é isso que o torna tão envolvente e divertido.
Hatori é uma protagonista um tanto incomum, justamente por não seguir um “padrão” convencional de heroína. A personagem em boa parte da história chega a ser imatura, idiota e presunçosa, mas que faz com os leitores se identifiquem e a apoiem mesmo com todos seus defeitos, o que acaba contribuindo para o humor. Ela não muda sua personalidade com o passar do tempo – o que é um diferencial já que em muitos shoujos as protagonistas vão mudando aos poucos, evoluindo – do começo ao fim sua essência permanece.
Os “protagonistas masculinos” são dois. Terasaka é ó típico amigo de infância, não fala com muitas pessoas e tem relacionamentos de curto prazo. Ele é o principal interesse amoroso da protagonista no começo da história, mas que acaba a desprezando. Mesmo assim ele é um personagem constante e é muito importante na trama. Já Hiromitsu é um personagem extrovertido, popular e que está sempre com uma garota diferente. Quando Terasaka rejeita Hatori, Hiromitsu vai se aproximando da mesma e, mesmo não sendo do tipo romântico que pertence a uma pessoa só, acaba se apaixonando por ela.
Também temos a presença de alguns secundários importantes. Adachi é exatamente o oposto de Hatori, ela caracteriza a heroína dos mangás shoujo. Boazinha, modesta, que se preocupa com os outros e é a excluída da sala que os colegas não gostam, mas que é “salva” pelo mocinho, no caso, Terasaka. Uma personagem clichê que ao invés de ter o apoio de quem lê, acaba obtendo o efeito contrário. Já Nakajima seria como a consciência de Hatori. O tipo de amiga que, se existisse de verdade, diria “te avisei que não iria dar certo” caso algo fracassasse. Apesar de ter uma personalidade consideravelmente fria, é sensata e consegue cativar bastante, chega a ser o ponto de equilíbrio dos personagens, alguém mais “pé no chão”. Não é a toa que a mesma é a melhor amiga da protagonista.
Algo que pode ser notado é que os papéis da Hatori e da Adachi parecem trocados. Para entender melhor, podemos exemplificar da seguinte maneira: Adachi é uma espécie de Sawako, de Kimi Ni Todoke, e a história toda parece estar sendo contada a partir da visão de sua rival, Kurumi, que nesse caso seria representada através de Hatori.
Falando um pouquinho da arte, particularmente, o traço da autora não é um dos mais bonitos, porém há momentos em que a mesma consegue se superar ao desenhar algo mais cômico, cooperando com a comédia apresentada. Logo ele não segue um modelo padrão o que causa uma certa estranheza ao ser comparado com outros do mesmo gênero. Nada que tire os méritos da série até então, mas que você não vai conseguir deixar de reparar se já for um leitor assíduo do gênero.
COMENTÁRIOS FINAIS
Se você gosta de plot twist do começo ao fim, então com certeza esse mangá seria a escolha certa. Sem contar que ele sai daquele tipo convencional, do qual não se sabe com quem a protagonista vai finalizar até ler os últimos capítulos da história. E mesmo os personagens, eles são tão cativantes que poderiam ser comparados com pessoas comuns.
Talvez o mangá tenha chegado ao seu ápice ao mostrar o triângulo amoroso envolvendo Hatori, Terasaka e Hiromitsu. Embora Hiromitsu tenha a apoiado em muitos momentos, não pude deixar de torcer para o amigo de infância, mesmo esse fazendo tantas besteiras e a magoando tanto.
Heroine Shikkaku é um shoujo atípico. Hatori, por se tratar de uma personagem boba que é obcecada em se tornar uma heroína, acaba tentando “copiar” a personalidade de sua rival. Porém falha, já que os atos da outra não condizem com os seus. Aliás, o foco principal é esse, tentar fazer com que a desastrada protagonista se torne uma heroína. Entretanto, esse tópico acaba se perdendo um pouco com o desenrolar do enredo e acredito que esse seja um dos pontos negativos do mangá, já que ao se “perder” a história entra em mais um dos clichês dos shoujos, mas volta com força na reta final, lembrando o motivo da trama.