Uma das mais recentes apostas da Shounen Jump.
World Trigger é provavelmente a única série de 2013 da Shounen Jump que realmente tenha conseguido sobreviver, mesmo que repleta de incertezas e dúvidas sobre seu desenvolvimento. O mangá que começou a ser lançado em fevereiro e é de autoria de Daisuke Ashihara acabou ganhando um fandom curioso, principalmente pelo fato da série começar a ser publicada na ESJ (a Jump americana). World Trigger conta com 4 volumes encadernados até o momento e mais de 50 capítulos publicados. É a única série de “ficção científica” da Jump nesse momento. Recentemente a obra completou o significativo primeiro ano de vida na revista e acabou ganhando uma atenção especial na publicação ocidental através de uma entrevista com o autor dividida em algumas edições.
Graças a galera da internet, hoje essa entrevista está em nossas mãos (assinar a Jump não sendo dos EUA é uma tarefa bem chatinha) e hoje a trago traduzida para vocês. A entrevista não contem as mesmas imagens da publicação original (seria demais, né?) mas pelo menos já dá pra conhecer um pouco mais do novato que conquistou seu espaço – ou ao menos vem tentando fazer.
Como você elaborou a história de World Trigger? De onde é que ela vem?
Antes de conceber a história atual, eu criei primeiro os personagens e o mundo. Então eu coloquei os personagens em várias funções para ver o que seria interessante, somando e subtraindo de lá. Então concebi os personagens em primeiro lugar, depois a história.
World Trigger é uma história de ficção científica. O que te atraiu para a ficção científica?
Eu fui realmente influenciado pelo meu editor. Depois de terminar minha série anterior, eu planejava fazer um mangá comum da Shonen Jump, cheio de competição. Originalmente, eu ia fazer um mangá de esportes, mas enquanto eu estava conversando com meu editor ele me disse apenas para fazer o que eu tinha vontade de fazer e de mirar algo mais original. Então levei isso a sério. Minha ideia para a série era que haveria uma tecnologia alienígena na Terra que todos poderiam usar. Na Jump, quando os personagens têm poderes especiais, eles são normalmente limitados a apenas uma pessoa. Achei que seria interessante se alguém pudesse usar os mesmos poderes em igualdade de condições. E pensei que poderia me permitir incluir algumas das ideias que eu tinha para minha série de esportes. E é assim que ela se transformou em uma série sci-fi.
Você deve ter algumas influências de ficção científica! Que tipo de filmes, TV ou livros que você realmente gostava no passado?
Eu sou um fã de mais do que apenas sci-fi, mas um dos meus favoritos desde que eu era garoto é Doraemon. Era fascinado com a ideia de trazer tecnologia de futuro para o presente e usá-la de várias maneiras. Em termos de sci-fi, eu li um monte de livros no meio trabalhando na minha série. e realmente gostei de Starship Troopers, de Robert Heinlein e Tunnel in the Sky. Eu primeiro tinha lido Tunnel in the Sky no ensino médio e foi algo que realmente mexeu comigo. Havia uma porta que conduzia a uma outra parte do espaço. Esse conceito realmente me influenciou.
World Trigger é sua segunda série na Shounen Jump após Kashlkoi Ken Rilienthal (Super Dog Rilienthal). No que suas duas séries são semelhantes e diferentes?
Elas são semelhantes em termos de história que gira em torno dos personagens. Os personagens existem, e de acordo com o que vão se movendo eles são apanhados em situações loucas e isso torna-se a história. Então, essa parte é semelhante. A diferença é que ganhar ou perder, não importa em Rilienthal. Não é realmente sobre isso. Se alguém perde, alguém pode vir para o resgate. Eles podem trabalhar juntos e resolver o problema. Em World Trigger, como disse anteriormente, eu queria que fosse mais competitivo. Assim, até mesmo os personagens fracos tem que lutar com seus próprios poderes. Isso é o que o torna diferente e faz World Trigger um pouco mais sério.
Qual é a sua parte favorita de ter uma série de mangá semanal?
A melhor parte são as reações dos leitores. A Shounen Jump tem o sistema de pesquisa com os leitores, e é realmente demais quando a popularidade da série cresce. É gratificante quando você apresenta algo que você acha que os fãs vão realmente gostar e isso realmente acontece. E, é claro, receber cartas de fãs e ver a série através dos olhos do leitor.
Na seção de comentários, muitas vezes você fica animado quando os novos volumes vão sair. Você sempre vai à livraria para vê-los todos enfileirados?
Eu realmente não tenho ido para vê-los, mas a minha equipe vai. Eles em seguida me enviam um e-mail pra me dizer que eles encontraram os mangás. Isso é o suficiente para me satisfazer.
Há um Twitter oficial japonês de World Trigger. Isso foi sua ideia?
O departamento editorial me perguntou e eu fiquei animado com isso. Eu estava recebendo uma tonelada de perguntas dos fãs através do Twitter, por isso foi a minha ideia de ter um “cantinho de perguntas”. É muito divertido.
Quando você tem tempo, o que você faz para se divertir?
Eu não tenho tempo livre agora, mas pensando sobre mangá era algo que eu sempre fiz por diversão. Entre serializações eu assistia a filmes e lia livros, mas no final foi tudo para me ajudar na hora de fazer um mangá. Então mangá é tanto o meu trabalho e hobby. (risos) Eu gosto de jogar videogames, incluindo um monte de jogos americanos que são localizados e lançados aqui, como Skyrim. Eu realmente gosto de como há um mundo inteiro com personagens que nele habitam. Combina meus interesses. Outra grande característica é a forma como estes jogos têm mods. Os fãs são capazes de acrescentar coisas novas para o jogo. Fiquei realmente impressionado com isso. Toneladas de novos elementos, como armas, personagens e construções podem ser criadas pelos fãs. Isso é muito divertido. Eu queria poder fazer isso em jogos japoneses. A ideia de todos trabalhando juntos para mudar aquilo é um pouco semelhante ao dos Triggers em World Trigger. É uma tecnologia alienígena, mas o povo da Terra pode mudá-lo para atender às suas necessidades. E o mundo da Neighbor possui muitos países diferentes, cada um deles criado por seu próprio povo. Eu realmente gosto da ideia das coisas criadas à mão por várias pessoas. Acho que isso me influencia muito.
Qual é a sua série favorita na Jump nesse momento (além de World Trigger)?
Eu não tenho muito tempo para ler, então não leio tudo. Vamos ver… Isso é difícil. Como um fã de mangá eu costumava ler coisas para me divertir. Mas como um criador você acaba olhando mangás diferente. Você vê através dos olhos de um criador e não pode deixar de analisá-lo. Eu tenho alguns capítulos que realmente mexem comigo apesar de tudo. Ultimamente tenho visto alguns capítulos de Haikyu e PSI que apresentaram coisas que eu queria fazer no meu mangá. Haikyu é um mangá de vôlei, e esportes têm um aspecto misterioso para eles. Mesmo que você esteja “lutando” com alguém, você pode entender o outro. Eu acho que isso é porque os concorrentes estão compartilhando o mesmo tipo de habilidades. Isso o torna diferente de uma guerra e por isso que eu queria fazer um mangá de esportes. Então Venho aprendendo muito sobre mangá esportes de Halkyu . E em PSI, o personagem principal não pensa em poderes psíquicos como sendo uma algo positivo. No meu mangá, os personagens têm poderes chamados “Side Effects”. Estes são muito úteis, mas de certa forma eles podem causar problemas e arruinar a sua vida. Eu gostei de ler PSI já que é interessante ver uma opinião diferente sobre um tema similar.
Como World Trigger mudou desde sua criação e como você vê novas possibilidades para a série que você não via quando você começou?
A maior mudança do conceito original é que as posições de Osamu e Yuma se inverteram. Suas personalidades foram definidas muito cedo. Yuma é talentoso, mas não pensa nas coisas muito profundamente. Ele só segue o correto sem pensar duas vezes. Osamu, por outro lado, quer fazer a coisa certa, mas falta a força para realizá-lo. Assim, enquanto as suas personalidades não mudaram, originalmente Yuma era o agente da Border e Osamu era um ser humano normal, que não estava na Border. A história foi baseada em torno deles se conhecendo e Osamu se juntando à Border. Mas o meu conceito era que eles eram opostos, então decidi ir até o fim e fazer Yuma como um Neighbor. Essa foi a maior mudança, e isso influenciou muito a história. Osamu tornou-se um agente de baixo nível na Border e que tem de batalhar pra caramba. (risos)
Pode descrever a relação entre Osamu e Yuma?
A minha ideia desde o início era que eles iriam formar uma equipe, então é por isso que decidi fazê-los opostos um do outro. Eu imaginei que seria divertido ver personagens que são completamente opostos um do outro trabalhando em conjunto. Uma das grandes diferenças entre eles é que Osamu é extremamente fechado. Por exemplo, ele acha que é uma boa coisa não reagir quando você está sendo intimidado. Yuma vem de um lugar totalmente diferente. Ele é o tipo de cara mais “olho por olho” ao invés de um “deixa pra lá”. Sua vida lhe ensinou que se você não devolver melhor do que você recebe, você vai perder o respeito. Essa é a maior diferença entre os dois personagens. Fiz um grande esforço para expressar isso nos primeiros capítulos.
Se você estivesse na Border, qual posição você estaria? Attacker, Gunner, Sniper, Operator, All-Rounder…
Boa pergunta. Gunner parece ser algo extremamente divertido. Mas eu não sou muito atlético, então provavelmente eu teria de ser um Operator. (risos) Oh, eles não apareceram muito na série ainda, mas lá tem um departamento de engenheiros. São eles que criam e aperfeiçoam os Triggers. Acho que isso seria divertido.
Qual personagem você mais gosta?
Hmm… Quem seria? Eu realmente não coloco muito de mim em meus personagens. Quando eu era criança eu era parecido com Osamu. (risos) Mas agora? Oh, há uma criança em no Esquedrão Miwa com óculos chamado Kodera. Ele não fez muita coisa ainda, mas ele é muito bom em analisar o campo de batalha e usá-lo para ajudar a equipe. Gosto de analisar as coisas, de modo que me faz gostar do Kodera. Espero deixá-lo brilhar em algum momento no futuro.
Você inseriu algumas coisas muito engraçadas para os extras nos volumes de World Trigger. Isso é porque é difícil se encaixar no tom sério da série?
Sim, eu sempre amei ver um lado diferente do personagem no material bônus. Eu quero adicionar mais elementos de comédia para a série, mas pode ser difícil por causa do tom. Se for muito sério, pode ser cansativo para ler, certo? (risos)
Há tantos personagens na série agora. É algo que você planejou? Isso é uma influência por originalmente ficar planejando fazer um mangá de esportes?
Quando eu crio personagens eu primeiro penso em seus nomes. Uma vez que eu decidir sobre um nome eu começo a ver o personagem se criando. Então eu criei uma centena deles. World Trigger tem a Border e esquadrões de agentes. Então apresento os personagens para preencher um esquadrão inteiro de uma vez. Escolho o capitão e sua personalidade e, em seguida, penso sobre que tipo de agentes estariam abaixo deles. Então, se eu gosto da equipe que os coloco todos no mangá. É por isso que há tantos personagens, e provavelmente há muito mais para vir. (risos)
Que experiência de vida o preparou melhor para seu trabalho como um artista da Weekly Shonen Jump?
Depois que eu terminar o colégio eu trabalhava na recepção de um hotel de negócios e isso me ajudou muito. Antes disso, eu realmente não sabia como me comunicar com as pessoas, além de amigos. Mas conseguir um emprego e ter que lidar com os clientes e colegas de trabalho foi uma grande mudança. Isso me ajuda agora, quando eu tenho que falar com meu editor. Essa maturidade é muito importante neste tipo de trabalho.
Qual personagem você gosta de desenhar mais e por quê? E menos e por quê?
O mais divertido de desenhar são Kitora e Usami da Tamakoma Branch. Também Yoneya, o cara com a lança. Kitora tem dois lados para ela. Ela é muito rigorosa, mas de certa forma ela é muito avoada. Eu gosto desse tipo de coisa, por isso é divertido desenhá-la. E para Usami e Yoneya, os dois apenas parecem estar curtindo a vida. Eu penso sobre isso enquanto os estou desenhando. Algo como “esses dois são realmente livres!” Sua alegria de viver é contagiante para mim. Em termos de dificuldade, eu diria Jin. Ele tem um cabelo estranho (risos) e é difícil dizer o que ele está pensando. Ele parece feliz, mas há também uma escuridão dentro dele. Ele tem a capacidade de ver o futuro, então eu acho que ele viu muitas coisas. Tento desenhá-lo de uma forma onde você pode ver isso em seu rosto. Às vezes eu imagino o que ele está pensando quando eu o desenho. (risos) Eu sinto que Jin é um personagem mais profundo do que eu saiba.
Existe um significado especial do porque Replica dizer para Yuma que só ele pode decidir usar o Black Trigger?
Isso é mais ou menos como o tema geral da série. Isso é quando acontece alguma coisa e você tem que ser a pessoa que decide como reagir a ela. Para Yuma e todos os personagens, haverá caminhos na estrada e eles terão de decidir qual tomar. Ir por este caminho é o que a Border quer. Ou tomar o outro caminho é contra as regras da Border, mas talvez seja isso o que você realmente queira fazer. E você é o único que tem que fazer essa escolha. Então, eu estou tentando expressar esse tema através de Replica. Com tantos personagens diferentes eles podem se envolver em situações semelhantes em que alguém lhes diz algo assim.
O que você gostaria de dizer aos seus fãs de língua inglesa na América e em todo o mundo?
Eu nunca imaginei que os fãs estrangeiros iriam mesmo estar lendo meu mangá quando eu comecei mas estou tão feliz que eles estão. Eu vou trabalhar duro para que todos possam continuar a desfrutar da série. Obrigado!
Agradecimentos pela entrevista ao user zogobob, do Manga-Helpers.