Um pequeno passo para o homem…
Um dos gêneros que eu mais gosto é o bom e velho sci-fi, ainda mais se ele for mais voltado para o espaço! É uma ideia que sempre me atraiu, a época que a humanidade finalmente se soltou dos laços com a Terra e foi se aventurar em outros planetas. Claro que o Japão não ia ficar de fora, mas nunca foi algo que me agradou tanto por vários motivos e os exageros não me agravam tanto. Ultimamente temos diversas obras que retratam isso de uma forma mais “agradável”. É o caso de Space Brothers, que se destacou e ganhou um anime no ano passado. Mas uma série ainda merece ter uma atenção especial daqueles que gostam de quadrinhos em geral.
Foi então que conheci há algum tempo um mangá chamado Planetes. Indicado por alguns amigos e me interessando por não ser uma obra longa, acabei lendo aquela obra. Na época em que li pela primeira vez adorei. Uma história muito real e até mesmo profunda apesar de poucos capítulos. Mas do que se trata essa história? O que ela tem para conquistar tanto e ser tão bem comentada?
No futuro as viagens para o espaço não vão ser algo tão complicado e difícil de se fazer, tornando viagens para fora do planeta normais e constantes. No entanto essas facilidades trouxeram um novo problema: Lixo espacial. Pedaços grandes de escombros, satélites fora de uso e outras coisas acabam flutuando perigosamente em órbitas baixas e os mesmos podem causar um grande acidente se algum desses pedaços de lixo bater em uma espaçonave. Para prevenir isso existem as naves de destroços, responsáveis por manter a ordem do “lixo espacial” e evitar acidentes para as naves de viagens. A história acompanha a nave DS-12 ou conhecida como Toy Box. O mangá conta a história e sonhos da tripulação dessa nave, seu dia a dia, seus dramas e o carinho de todos pelo seu trabalho.
Planetes é um mangá seinen criado por Makoto Yukimura (autor de nada mais e nada menos que Vinland Saga), foi lançado em 1999 na revista Weekly Morning da Kodansha e foi concluído 4 volumes (totalizando 26 capítulos). Um quinto volume chamado de 4B foi lançado contendo alguns extras e algumas histórias paralelas que não interferem na linha original. Ele possuiu um anime feito pela Sunrise com 26 episódios mas que na época acabou não tomando tanta notoriedade – talvez pela temática não muito “comum” e um pouco mais séria do que o público animado preferia na época.
Dentro da situação atual do nosso mundo, com programas de conscientização ambiental e a busca por novos meios de recursos naturais, podemos dizer que o futuro de Planetes é totalmente possível dentro de nossa realidade. Diferente do que se espera de uma série de ficção como muitos mechas, Planetes não possui armas com raios lasers, naves na velocidade da luz, mechas ou “PEW PEW PEW”. Nós começamos a acompanhar ainda o começo da exploração do universo pela humanidade com bases na lua, Marte e caminhando para Júpiter. Mesmo em apenas 26 capítulos, o autor consegue abordar vários tipos de temas desde racismo até política e guerra, todos contextualizados em nosso mundo. E todas essas histórias são maravilhosas – a minha preferida é sobre o tio da Fee e que é tratado em poucas páginas em um flashback, mesmo assim ele é lindo e de partir o coração.
A todo momento vemos a preocupação do autor em alertar seu expectador que aquilo mais do que uma obra de ficção é um aviso: a sociedade provavelmente passará por um problema assim. Se já existe lixo em demasia na Terra, imagine quando chegarmos a popular o espaço? Toda a história girando por algo assim pode parecer chato ou mesmo entediante, mas aqui o mangaka prova que quem é bom “faz mangá de tudo”. E o resultado de Planetes é espetacular. Além de se identificar com tudo (personagens, ambientes) você ainda recebe uma aula de cidadania espacial (?).
Sobre os personagens, o protagonista Hoshino ocupa a maior parte do tempo e ele se desenvolve muito bem dentro da série. Se desenvolve tão bem que todo o discurso que ele faz no último capítulo é algo que você nunca pensaria que o mesmo personagem no início do mangá poderia ser capaz de dizer. Mesmo os personagens secundários conseguem ter capítulos destinados a eles e que são tão ou mais interessantes que o do Hoshino. Yuri e Fee são ótimos, apesar de um pouco apagados quando o Hoshino é o foco, mas ainda assim são carismáticos demais. Talvez a jovem Tanabe seja a mais difícil de se adquirir uma afeição – como em meu caso – mas mesmo assim ela possui a sua ponta de desenvolvimento por parte do autor. O autor apresenta os personagens de maneira carismática, envolvente e faz com que o leitor realmente se identifique com o que se passa, com os problemas pessoais de cada um e com suas personalidades.
A arte tem dois pontos distintos: Em meu caso particularmente não consigo gostar tanto do design dos personagens e chega a ser engraçado você perceber a diferença que acontece na aparência deles do capítulo 2 pro 3. Enquanto isso toda a parte de cenário é visualmente incrível, ainda mais se forem as lindas páginas coloridas que todo capítulo possui no começo. Ele sempre acaba pegando cenas no espaço em que a câmera está longe para dar aquela sensação de que nós somos pequenos e que mesmo uma nave gigantesca pode parecer algo muito pequeno em relação a um planeta. Para os que acompanham Viland Saga, do mesmo autor, sabe que ele sabe fazer posicionamento de cenários como poucos e torna a leitura muito mais imersa.
Planetes é uma linda história contada em apenas 4 volumes e é totalmente recomendado para qualquer tipo de leitor (tanto que temos indicado em nosso Eu Recomendo de mangás seinen). Um enredo profundo, uma arte linda e personagens cativantes. Muitos podem achar que pode ser chato por não ser um sci-fi espacial de ação, mas é uma daquelas experiências que você precisa ter se gosta de mangás. Aliás, não só de mangás. Se você lê quadrinhos em geral conseguirá entender a importância e o significado que essa obra tem.
O mangá foi lançado na Itália há alguns anos pela Panini e poderia ser uma boa opção para o mercado nacional visto sua curta duração. Claro que com todo o cuidado de uma edição – páginas coloridas como no original, por exemplo. Não sabemos se esse tipo de mangá poderia ser bem aceito aqui, mas por ser pequeno teríamos até mesmo a chance para testar para outras coisas do gênero. E então?