Um mangá anti-Jump dentro da Jump.
Minha relação com Medaka Box começou de uma maneira conturbada. Em 2009, quando estava estreando na Jump, resolvi ler e… não consegui gostar de maneira alguma daquilo no primeiro volume e larguei de mão. Sem brincadeira, encabulado com o fato de como diabos aquele mangá que achei tão chato conseguia sobreviver ao rigoroso sistema de circulação de séries da revista da Shueisha e tentava ler de novo, mas não conseguia passar do primeiro volume. Tentei mais umas 5 vezes, e só nesta, que eu estava determinado a ler TUDO, por mais que piorasse depois.
Dessa vez, eu fui perseverante e consegui ir além do chatíssimo começo e aos poucos fui aprendendo a gostar desse mangá extremamente peculiar e passei a compreendê-lo melhor e fui me encantando pela obra. Então, na edição dupla de número 22-23 de 2013 da Jump, com 192 capítulos compilados em 22 volumes, chega ao fim essa bizarra e esquisita saga da jovem presidente do conselho estudantil do Colégio Hakoniwa, Medaka Kurokami, que se mostrou ser uma obra diferente de muita coisa que já havia sido vista na Jump. Medaka Box, criado pela dupla Nisio Isin (famoso por ser o escritor da célebre franquia de novels “Monogatari”) e Akira Akatsuki (um desenhista relativamente desconhecido que fazia alguns mangás eróticos antes do início da série)!
A história
Medaka Box conta a história de Medaka Kurokami, de 15 anos, que é eleita como a presidente do conselho estudantil por 98% dos votos dos alunos da escola e então, após eleita, decide criar uma caixa de sugestões com a função de atender os pedidos e sugestões de todos os alunos da escola que estiverem com algum problema ou dúvida. Daí, a garota acompanhada de seu fiel amigo de infância Zenkichi Hitoyoshi (que nutre uma paixão pela mesma) passa a resolver os problemas de seus colegas de escola. Inicialmente, essa é a premissa do mangá, mas será que fica só nisso? Não se sabe se isso havia sido planejado por Nisio Isin ou se foi uma ideia que os editores da Jump bolaram pra fazer a série cair no gosto dos leitores para que sobrevivesse na concorrida grade da revista, mas… a série se torna um curioso mangá de batalhas. Mas como isso acontece?
Somos introduzidos ao Flask Plan, um projeto instaurado pelo diretor de Hakoniwa para criar estudantes com anormalidades, dando a eles habilidades especiais (ou se preferir chamar assim “superpoderes”) que estejam no mesmo nível das habilidades especiais de Medaka, mas, a mesma ao descobrir a existência de tal conspiração, se opõe ao projeto e trava uma luta contra os frutos dos experimentos do Flask Plan para acabar com o mesmo e a partir daí o mangá passa a mostrar para o que realmente veio.
Considerações Técnicas
Durante a trajetória da obra, Medaka Box se torna uma grande tiração de sarro do battle shounen na forma tradicional como conhecemos. Durante vários momentos, temos vários clichês do gênero elevados à potências ridiculamente malucas, e isso é um dos elementos que torna a obra de Nisio Isin e Akira Akatsuki tão rica e diferente de várias outras publicações que passaram pela Shonen Jump nos últimos 10 anos.
Apesar de ser gostar da série, tenho que admitir que é um mangá bastante “ame-ou-odeie”. A série não é para todos, deve-se estar bastante predisposto a encarar toda a abundante metalinguagem que acompanha as colossais paredes de texto de Medaka Box, que abrigam plot-twists dos mais malucos possíveis (em que outro mangá você encontraria uma vilã que ameaça acabar com o mangá antes da estreia do anime da série, que estava prestes a estrear quando o arco onde ela aparece estava sendo publicado? Sim, meus amigos, vocês vai encontrar uma aniquilação da quarta barreira aqui.) junto de um punhado de ideias bizarras (que se conectam de uma forma assustadoramente coerente com o roteiro). Se o leitor não estiver devidamente preparado, Medaka Box pode se tornar uma leitura bastante cansativa por conta desses fatores. A minha recomendação é que a série seja digerida com calma e aos poucos.
Uma das maiores qualidades do mangá, sem dúvidas, é o seu rico panteão de personagens. Cheio de figuras carismáticas, o “elenco” da série é bastante diversificado. A história vai apresentando personagens bem aos poucos, mas a partir do arco do Flask Plan (que começa no volume 4), dezenas deles vão surgindo e sendo recorrentes durante a série, sobretudo os personagens dotados de “anormalidades”, cheios de poderes absurdos, divertidos, originais e muito bem pensados. Quer ter uma ideia de que tipo de poderes eles têm?
Eu posso citar vários exemplos, como uma menina com uma capacidade pulmonar tão forte que é capaz de prender a respiração por 1 mês (!), Um cara que é capaz de manipular praticamente todo tipo de arma, ou até mesmo o personagem mais popular da série (e um dos mais queridos pelos fãs), Misogi Kumagawa, que pode distorcer aspectos da realidade de acordo com a sua vontade entre vários outros cheios de habilidades curiosas que não vou ficar falando aqui para que este texto não seja alongado demais.
Comentários Gerais
Como eu disse lá no começo do texto, o início da história pode não parecer dos mais interessantes, mas lhes asseguro, a qualidade da série cresce em grande ascenção até acabar com chave de ouro enquanto dialoga constantemente com o leitor e aloprando os conceitos que conhecemos. Mesmo que haja o estranhamento inicial, aos poucos vamos aprendendo a apreciar o que a série quer nos oferecer, e mesmo que não se goste, é uma experiência bem diferente do que costumamos ver na revista para garotos da Shueisha e vale a pena dar uma conferida nessa maluca empreitada de Nisio Isin no mundo dos mangás, nem que seja só pela sensação de ter algo que constantemente brinca e extrapola as barreiras do entretenimento.
Medaka Box ainda rendeu duas séries animadas pelo estúdio Gainax em 2012, cada uma rendendo 12 episódios cada. O anime não foi o suficiente para aumentar a popularidade do título no Japão, não alterando os números de vendas ou mesmo de votação na própria Shounen Jump. Há quem diga que isso possa ter influenciado para o fim da série. Difícil. Do jeito como o Nisio Isin é, Medaka acabou porque ele queria que acabasse. Uma obra diferente e que dificilmente veremos novamente algo parecido dentro da própria revista. Mas não tem problema, afinal:
por @Nintakun do blog Mangas Cult