Porque escrever Nura – A ascensão dos clã das sombras no título do review seria longo demais.
A Shounen Jump sempre foi uma verdadeira fábrica de sucessos. Todos sabemos que a chance de um autor ganhar uma notoriedade que seja maior do que “apenas” o Japão, é a Shounen Jump que proporciona. Não à toa a revista é publicada nos Estados Unidos e seus mangás são vendidos por todo o mundo, seja em qualquer hemisfério. Claro que no Brasil temos esse sucesso refletido nos títulos publicados pelas editoras nacionais, e consequentemente no público que vai se formando por aqui.
A JBC não pensa diferente. A avalanche de títulos da Shounen Jump chega agora a ser reforçada por Nurarihyon no Mago, que ganhou o título no Brasil de Nura – A ascensão do clã das sombras (uma adaptação de um dos títulos internacionais da marca, “Nura – Rise of the Youkai Clan”). O mangá de Shiibashi Hiroshi atualmente se encaminha para a sua reta final, e mesmo tendo sido “cancelado” da Shounen Jump, teve tempo suficiente para se formar como um título expressivo no período em que foi publicado, tanto que muitos diziam que as grandes vendas dos volumes encadernados representavam que Nura não era “apropriado” para o público da revista e que tinha margem para atingir um leitor mais maduro.
Mas afinal, o que um mangá de youkais, como tantos outros, tem de diferente? A JBC acerta ao trazer o título para o mercado nacional? Essas e outras questões a partir de agora.
A História
Youkais são seres que tem uma missão: assombrar, assustar e perturbar a vida dos seres humanos. Ou ao menos é o que algumas pessoas acreditam. Um youkai mais poderoso é o responsável por coordenar as atividades dos seres “menores”, e ser uma espécie de líder para eles. Esse é o papel do Nurarihyon, o senhor dos youkais. Nos dias atuais, Rikuo Nura é uma criança filha de humanos, mas que carrega em si o sangue de seu avô, que nada mais, nada menos é o Nurarihyon. Com isso Rikuo acaba sendo somente ¼ youkai, e tem que conviver junto com seu avô em uma casa que é um verdadeiro lar para os seres de seu clã.
Com o passar do tempo, o desejo do Nurarihyon passa a ser que Rikuo seja seu sucessor, assumindo o comando do clã e se tornando o novo mestre dos youkais. No começo o garoto parece empolgado com a ideia de suceder o velhinho, mas ao perceber que as pessoas temem os seres míticos e associam ao medo, ele acaba de desistindo. Porém alguns acontecimentos acabam fazendo com que o sangue youkai de Rikuo desperte, trazendo a tona o verdadeiro mestre dos youkais que aceita o seu posto – mas com um imprevisto: ele só se transforma em ¼ do dia, como condição de seu sangue. Como Rikuo conviverá com seus poderes? Será que seu lado humano cederá ao seu dever de se tornar o Nurarihyon? E como ele conseguirá manter a sua ideologia de colaborar com o mundo youkai e humano ao mesmo tempo?
Considerações Técnicas – O Mangá
Originado de uma one-shot publicada na revista Shounen Jump em 2007, Nurarihyon no Mago é uma série criada por Shiibashi Hiroshi, publicada entre março de 2008 e com término em dezembro de 2012. O mangá foi “finalizado” na revista semanal no capítulo 206, mas ganhou 3 capítulos adicionais de 64 páginas cada, rendendo um final completo na Jump NEXT. Com isso, o título deve render aproximadamente 25 volumes encadernados no total. Vale comentar que Shiibashi era assistente de nada mais e nada menos que Hirohiro Araki, o criador de JoJo’s Bizarre Adventure. Mesmo o título não tendo um destaque muito grande na revista semanal e quase sempre ocupando as últimas colocações no ranking de popularidade, ele ainda conseguiu 2 séries para TV de 25 episódios cada e seus volumes encadernados vendiam mais de 200 mil unidades na primeira semana de lançamento (daí a teoria que o título não era direcionado para os leitores da Jump, que no papel, seriam mais novos). Esse provavelmente foi o fator que segurou o mangá por tanto tempo na revista.
A grande dúvida em torno de Nura era em relação ao enredo: como “mais um” mangá de youkais não seria considerado batido o suficiente para os leitores? Muitas outras séries já utilizaram esse tema e conseguiram um enorme sucesso (basta lembrar de InuYasha, provavelmente o caso mais popular entre os brasileiros). Podemos citar em primeiro lugar a arte maravilhosa de Shiibashi – em minha opinião, o melhor da Jump no momento em que o mangá era publicado. E vejam bem: quando eu falo ARTE, digo em relação a tudo: descrição de cenários, caracterização de personagens, diagramação e entre outros pontos. Todo o clima que o autor consegue criar com seus traços é totalmente condizente com a história, além de ter uma habilidade enorme de desenhar os grandes conflitos e “reuniões” dos youkais de uma forma que não pareça desordenada.
Mas sim, desenho não salva o mangá (ao menos que você seja Oh! Great). A história de Nura é envolvente e extremamente deliciosa de se acompanhar. Talvez a história do protagonista que não quer “exercer” a função de mestre dos youkais possa parecer clichê em alguns momentos, mas a forma como o mangá trata a “dupla personalidade” entre Rikuo e seu “alter-ego” nos permitem realmente perceber o crescimento das duas “faces” com o decorrer da história e como as decisões e as personalidades de ambos acabam influenciando nos atos que o Nurarihyon acaba tendo que se “fazer valer”. Isso sem falar no envolvimento do mestre com seus subordinados. Em sua forma youkai, Nura realmente faz valer toda a sua imponência, afinal ele é temido por tudo e todos e não tem medo de encarar aqueles que o desafiam.
E é esse o grande carisma da série: o desenvolver dos personagens. Claro, toda a disputa e os jogos de poder que se formam em volta do posto de mestre dos youkais acabam sendo um atrativo para quem gosta desse tipo de título. Os laços de Rikuo com sua família youkai, com seus amigos humanos, com o “preconceito” e com o peso de carregar um nome tão grande nas costas serão refletidos nos próximos volumes, e isso já está claro. Isso sem falar em fatores “surpreendentes” que devem aquecer ainda mais a história.
Considerações Técnicas – A versão JBC
Já dito anteriormente, Nura foi uma bela aposta da editora. Título com uma quantidade razoável de volumes, mas com término agendado e sem grandes preocupações se vai se tornar mais um dos “infinitos”. Além disso, como disse no começo: Shounen Jump. O mangá segue o esquema de outras publicações da editora como Bakuman ou Fairy Tail, com o diferencial que temos as capas internas com os mimos das ilustrações que agora fazem parte também do time da JBC. Para quem gosta desses pequenos detalhes (incluindo freetalks) eis um ótimo ponto positivo para a obra. Alguns também perguntaram sobre o logotipo da Jump na capa, e a JBC, diferente da Panini que fez a alteração externa, preferiu utilizar o mesmo na parte interna do mangá, na área geralmente reservado ao editorial. A Shueisha deu a opção para as editoras e essa foi a escolha da JBC.
Quanto à tradução, a JBC não ficou devendo em nada. Todos os nomes dos youkais traduzidos fazem toda a lógica e não altera em nada o contexto. A mulher de gelo, o homem se cabeça e outros acabaram sendo boas escolhas para o mangá. A única ressalva gira em torno de um termo: “sinhozinho”. Ok, a JBC quis colocar um termo próprio e que acabasse sendo marcante para o personagem e não acho que isso seja necessariamente algo ruim. Porém acredito que uma adaptação mais “sóbria” como “jovem mestre” cairia melhor em Rikuo. Vejam bem: “sinhozinho” não descaracteriza a obra, apenas dá a impressão de um tom menos “imponente” para Rikuo, que vai ganhar uma importância para os youkais muito maior com o passar do tempo. Para alguns tal termo não vai fazer grandes diferenças na leitura (e realmente não faz). Para outros pode causar um estranhamento sonoro. Cabe a interpretação de cada um. No meu caso, não curti a escolha do termo.
De resto não há do que reclamar. Boa edição, acabamento aceitável e uma impressão muito boa (lembrem-se que manchas e borrões são problemas de gráfica, caso o seu mangá venha assim, você tem o direito de trocar). Podemos dizer que foi, no geral, um bom trabalho da JBC. Tem de tudo para conquistar os leitores com o título. Para os que ainda não sabem, o mangá é mensal e custa R$11,90 – sem páginas coloridas, assim como no original.
Comentários Gerais
Nura é mais um dos shounens que atolam nossas bancas e revistarias no Brasil. As opções são muitas e já temos um grande número de obras da Shounen Jump recentes publicadas por essas bandas. Com o fim de Hikaru no Go, ou mesmo a paralisação de Hunter x Hunter, a JBC investe no título como o substituto do gênero e acredito que foi uma boa aposta. O fato de já ter ganho um anime e da série ser razoavelmente conhecida, ajuda na propagação do título e no “boca a boca”.
Nura definitivamente não é o melhor lançamento da editora no ano. A série possui altos e baixos que vocês perceberão no decorrer da leitura. Mesmo assim não deixa de ser agradável, com o toque dos shounens convencionais e um pé no que chamamos de “mais adulto” – talvez não um “seinen” propriamente dito, mas com uma linguagem que pode atingir outro público. Para os que enfrentarem os próximos 2 anos de compras mensais, uma boa sorte e uma ótima viagem ao mundo dos youkais.
por Dih