Review – O mundo descolado e "cool" de Soul Eater: Volume 1

Listen to the Beat of Soul…

A editora JBC prometeu “voltar” forte para brigar pelo mercado de mangás nesse segundo semestre de 2012. Para isso, alguns títulos de peso foram e são necessários, e entre eles um era um dos títulos mais aguardados para serem publicados no Brasil: Soul Eater.

Embora com um lançamento tardio – tendo em vista que o anime explodiu há alguns anos atrás – Soul Eater é um mangá que tem de tudo para agradar os leitores da editora e conquistar um ótimo público consumidor. Mesmo assim, o título ainda é olhado com olhos tortos por alguns e deixado de lado por outros, que desconhecem a história ou que simplesmente não querem “mais um shounen infinito” para acompanharem. Porém Soul Eater é diferente. E é nesse review análise do volume 1 que pretendemos mostrar para o público que ele é um mangá que merece sim sua atenção. Bem vindo à Shibusen, ou melhor dizendo, a “AMAAN”.

A história

A AMAAN (Academia da Morte para Armas e Artífices Neófito) é uma espécie de “Hogwarts” do mundo. Lá, alunos treinam duro para se transformarem nas mais poderosas Death Scythe e no temido e respeitável Doutor Morte. Mas para isso acontecer, o caminho não é fácil. Os alunos devem conseguir devorar 99 almas humanas e 1 alma de bruxa, a mais difícil da missão. Para isso eles são divididos em duplas em que um “manejador” controla uma “arma” para batalhar. E é aqui que conhecemos nossos três personagens principais. A primeira dupla de artífice e arma é composta de Black Star e Tsubaki, respectivamente. A segunda conta com o perfeccionista Death the Kid – filho do Dr. Morte – e as irmãs desastradas Liz e Patti como seus armamentos. Para encerrar, Maka comanda a foice Soul Eater, um dos mais poderosos jovens guerreiros de AMAAN. Essas 3 equipes crescerão juntas em suas missões, em seus aprendizados e em batalhas que os farão entender que seus poderes podem ser ainda mais sérios e assustadores do que imaginavam…

Considerações Técnicas – O mangá

Como disse anteriormente no começo do texto, Soul Eater é um dos melhores shounen que existem em publicação. Publicado na revista Shounen GanGan, tendo seus capítulos sendo lançados mensalmente e atualmente com 21 volumes em andamento. Para quem não assimilou o nome, essa é a mesma revista onde o sucesso Fullmetal Alchemist foi publicado. Soul Eater é uma criação de Atsuhi Ohkubo e é lançado desde 2003, tendo ganhado um anime de 51 episódios que alavancou o sucesso do mangá em 2008, nas mãos do estúdio Bones. O começo do mangá é extremamente bizarro, principalmente pelos péssimos e bizarros traçados do autor, que vão se desenvolvendo muito com o passar do tempo – e bota muito nisso. Mas como estamos falando especificamente do volume 1 nesse caso, vale notar o quanto o autor apelava para o ecchi no começo da série. Blair parece ter sido uma personagem inserida na história somente para esse fim.

O volume 1 de Soul Eater pode ser encarado como uma apresentação. Nele temos 4 capítulos, onde nos 3 primeiros conhecemos os personagens principais e suas personalidades. E só. O primeiro capítulo “de fato” já começa com uma missão e os garotos partem pra porradaria sem mais e nem menos. Esse é um ponto positivo da série, já que aqui as coisas não demoram séculos e não existem enrolações nas passagens dos arcos, como acontece com a maioria dos shounens semanais. A apresentação dos personagens serve muito bem para o desenvolvimento da história e ajuda a compreender um pouco como eles evoluem no decorrer dos capítulos.

Um dos grandes pontos positivos da obra é a linguagem jovem e “descolada” que Ohkubo se utiliza em abundância. Diversos termos em inglês durante o mangá, personagens caricatos e cheio de trejeitos e personalidades destacadas – como no caso do Shinigami / Doutor Morte ou de seu artifício Death Scythe – que ajudam a leitura do mangá ser extremamente divertida, mas ao mesmo tempo com um clima mais pesado e emocionante quando necessário, tudo auxiliado por cenários fantasiosos e uma ambientação extremamente criativa. Apesar da arte rebuscada nos primeiros volumes, Ohkubo tem uma diagramação e uma sensibilidade muito grande no posicionamento de quadros e sabe se utilizar muito bem de seus clichês de forma proveitosa, como no caso do próprio uso do ecchi. Além disso, as cenas de ação são ótimas, todas muito bem definidas mesmo não passando a sensação de “clean” como outros títulos que vemos por aí (caso de O Mito de Arata, por exemplo). Para quem gosta do gênero da porrada desenfreada, essa com certeza é uma boa pedida de leitura.

Considerações Técnicas – A versão JBC

Vamos começar dando uma nota geral para o trabalho da JBC nesse mangá: muito bom. Ainda não é o nível que realmente gostaríamos, mas já é superior ao material oferecido anteriormente pela própria editora, em trabalhos como Kobato, por exemplo. Vale dizer que conforme haviam dito em sua coletiva, o papel dos mangás foi alterado, mas isso não resolveu por completo os problemas com transparências. Eles são menos evidentes agora, mas ainda assim são perceptíveis em algumas páginas do mangá. E vale dizer que isso se aplica para obras de ambas as editoras concorrentes. Com Soul Eater não é diferente, e embora o material seja superior, esse quesito pode afastar um pouco os leitores mais hardcore que devem apelar para a versão americana ou original.

De resto, devemos elogiar o uso das capas internas desenhadas, como o da concorrente Panini, embora eu esperasse que as ilustrações especificamente no caso de Soul Eater teriam o apelo colorido. Mas enfim, é mimo e fã gosta dessas coisas – além de termos que lembrar que no original essas páginas também são compostas de apenas uma cor, no caso, laranja. Outro aspecto interessante é que a JBC volta a usar o “formatinho” para um tanko inteiro – 12×18. Esse modelo já havia sido utilizado anteriormente de forma semelhante em títulos como Angelic Layer e esse foi o formato optado para o mangá de Atsuhi Ohkubo. O preço também é diferente do convencional, sendo utilizado os R$10,90 ao invés do atual padrão de R$11,90, devido a exigências dos licenciadores.

Por último, porém não menos importante para os compradores, fica a qualidade da tradução. A obra ficou nas mãos do tradutor Luiz Kobayashi, e podem ter certeza que o trabalho ficou muito satisfatório. Soul Eater é um título que exige muitas gírias e um palavreado mais “rotineiro” e “descolado” nos personagens. É uma caracterização da obra. E a JBC conseguiu fazer isso sem apelar para o Briggês como em Tenjho Tenge ou a fase inicial de Fairy Tail. Os diálogos são fluentes e apesar de não te fazerem gargalhar, dá pra dar aquele sorrisinho nos balões do Shinigami-sama…

Mas como nada é perfeito, algumas pessoas reclamaram de algumas adaptações, como por exemplo no próprio caso anterior em que mencionei o “maioral” da instituição. A JBC optou por substituir o nome do hilário Shinigami-sama por “Doutor Morte”. Com certeza a sonoridade ficou estranha para quem já conhecia a obra, e alguns até sugeriram que outras aplicações como “Deus da Morte” poderiam ser melhores nesse caso. Já o outro caso de certa “reclamação” foi a alteração do nome de Shibusen para AMAAN, porém aqui a mudança é totalmente aceitável tendo em vista que ela foi feita para que o sentido original do trocadilho fosse mantido, deixando Academia da Morte para Armas e Artifícios Neófitos como o nome padrão nacional. Na minha opinião, escolha acertada e entendida.

Ah, também vale dizer que Cassius terá seu espaço da seção de cartas a la sua época de Dragon Ball da Conrad. É a sua chance de enviar sua crítica, elogio ou qualquer coisa do tipo para o e-mail ou caixa postal da editora e aparecer na publicação.

Comentários Gerais

Soul Eater dispensa grandes apresentações. Assim como outros sucessos (One Piece, Naruto e outros) há quem ame e há quem odeie. Como disse antes, com esse trabalho bem feito da JBC, não duvido de entrar para o trio de principais títulos da editora ao lado de Fairy Tail e Bakuman. Parabéns pela editora pela iniciativa de trazer o título, serão recompensados. Muitos abandonarão logo de cara por causa do traço (sim, já li relatos assim) e outros porque acreditarão que o apelo ecchi será constante na série. Podem ter certeza que Soul Eater dará mais vezes as caras por aqui e que com certeza os que continuarem acompanhando não se arrependerão.

O mangá chega para balançar bastante o mercado nacional e fazer a diferença com uma história cativante, repleta de ação, piadas non-sense e personagens que lhe farão dar muitas risadas durante toda a série. Soul, Black Star e Kid serão um diferencial. De resto, só vale lembrar que o mangá é lançado mensalmente no Japão (os capítulos, não os volumes) e por esse motivo poderemos alcançá-los relativamente rápido, em cerca de 2 anos. Mesmo assim, a espera vale a pena. Preparem suas almas e arrumem suas armas: o show começa agora.

por Dih

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.